Oxóssi, na Umbanda, é um Orixá bastante peculiar: por vezes, ele é diretamente associado ao caçador, outras, defensor das matas, senhor da fartura, das ervas que curam e da prosperidade. É esse o Orixá responsável por ensinar aos homens o valor da caça com responsabilidade, aquele que mostra que caçar sem moderação pode trazer graves consequências, não só à natureza, mas ao próprio homem.
Oxóssi aprendeu a arte da caça de seu irmão Ogum que, quando lhe ensinou a peleja, passou a se dedicar unicamente a suas ferramentas, à guerra e suas andanças pelas estradas. Oxóssi é caçador. Ogum é guerreiro. Mas embora o irmão tenha lhe ensinado a caçar, foi Deus quem o fez Rei dos Caçadores, título, no entanto, que causa profunda tristeza a oxóssi, pois eis que Oxalá viera a sua morada, depois de uma longa viagem, pedindo-lhe que caçasse uma codorna que deveria ser dada a ele.
Oxóssi o fez e, na manhã seguinte, entregaria a codorna a Oxalá. Deixou-a dentro de sua casa, presa no embornal. Quando Oxalá veio receber sua oferenda, Oxóssi o levou até o lugar, mas quando viu, a codorna havia sido roubada. Tamanho foi seu desgosto que maldisse a vida e jurou que pegaria o ladrão. Perguntou a sua mãe se ela sabia de algo e ela disse que não. Perguntou a todos os criados da casa e eles lhe retarguiram que não sabiam de coisa alguma.
Pediu que oxalá lhe desse mais um dia, e este assim o fez. No dia seguinte, lá estava ele com a codorna. Oxalá ficou muito satisfeito e deu a ele um arco precioso, pelo qual ficou honrado seu posto de Rei dos Caçadores. Nesse momento, cheio de felicidade, Oxóssi lançou ao alto uma flecha, dizendo que aquela ponteira se cravaria no coração de quem lhe roubara a cordorna, a primeira que estava no embornal, por ter tentado impedir sua coroação. Imediatamente, Oxóssi ouviu um grito surdo de sua mãe, e quando chegou onde ela estava, ele a viu, caída no chão, com a flecha encravada no peito. Ela roubara sua cordorna e a comera, por gula, como a maioria dos homens faz. Isso lhe causou a vida e a felicidade de Oxóssi em ser o Rei da Caça.
Foi quando Oxóssi se precipitou ás matas e lá passou a viver. No entanto, pouco tempo depois, Oxalá o chamou de volta, pois havia uma grande fome que assolava os homens. Ele precisava fazer seu papel: caçar para amenizar a fome do homem. Sua peleja começou, e ele auxiliou todos os caçadores, por vezes, ele mesmo caçava. No entanto, foi pegando gosto exagerado pela caça, e, embora a fome tivesse sido banida, ele continuava matando e matando.
Oxalá interferiu, pedindo que paarasse. Oxóssi não parou. Chegou a inclusive matar um pombo branco, animal de Oxalá, que nem sequer podia alimentar uma criança, tão pequeno que era. Oxalá ficou triste e se afastou de Oxóssi. Já não reconhecia o deus caçador: ele vivia sedento por sangue, sem se importar com as consequências de sua caça. Ele nem conseguia comer mais aquilo que caçava e a comida apodrecia. Os animais começaram a escassear e nem por isso oxóssi parava. isso lhe dava ainda mais gosto.
Oxalá tentou interceder novamente, mas Oxóssi o ignorou novamente. Uma noite, oxóssi encontrou um cervo e nele atirou muitas flechas, mas parecia que elas não tinham lhe causado nenhum dano. Ele se aproximou mais e, dessa vez, o alvejou com sua lança, no que, nesse momento, o cervo se iluminou. Ao lado do eado, ele viu Oxalá e, quando olhou novamente, o que viu foi seu próprio corpo alvejado pelas flechas. Oxalá lhe mostrou que, matando indiscriminadamente, ele apenas acabaria matando a si mesmo. A visão fora tão aterradora que Oxóssi nunca mais caçou.
FONTE: Tudo o que Você Precisa Saber Sobre Umbanda. Volume I. Janaína Azevedo. São Paulo. Universo dos Livros. 2010. 144 p.
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